segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Imagine: projeto social do Tocantins vira fábrica de sonhos no futebol

O time leva as oportunidades tão a sério que o técnico, John Hebert, fã de Muricy Ramalho, tem 20 anos de idade e era jogador profissional da equipe

Por Guarulhos, SP
Imagine um time de futebol movido pela vontade de fazer o bem. Imagine um time criado com a intenção de usar o poder da bola não para fazer dinheiro, mas para realizar uma função social e afastar jovens das drogas. Foi fazendo este exercício de reflexão que o radiologista Paulo Kramer, de Palmas (TO), teve um estalo e decidiu fundar um clube de futebol em sua cidade. Para nunca se esquecer deste propósito, Kramer resolveu dar ao seu time um nome literal e objetivo: Imagine Futebol Clube.
Copinha - Imagine - John Hebert e Felipe (Foto: Cassio Barco)Técnico John Hebert, de apenas 20 anos, orienta o zagueiro Felipe (Foto: Cassio Barco)


- É como o próprio verbo diz. Nosso time é feito de imaginar, de sonhar. É feito de dar oportunidades. O futebol é uma arma muito poderosa, não podemos usá-la só para enriquecer, precisamos cuidar de quem precisa – explica Paulo, que é dono, presidente, massagista, roupeiro, cozinheiro e "o que mais precisar" do clube, segundo definição do próprio.
Copinha - Imagine - Paulo Kramer (Foto: Cassio Barco)Paulo Kramer, presidente e faz-tudo do Imagine (Foto: Cassio Barco)
O Imagine existe há quatro anos, buscando e alcançando sonhos. Um deles, que era participar da Copa São Paulo, foi realizado neste domingo (5), em Guarulhos. A primeira participação não foi exatamente como os jogadores e o presidente do time sonharam. O Flamengo de Guarulhos, adversário da estreia, foi impiedoso, superior física e psicologicamente e venceu por 9 a 0. Mas a cobrança no time não é por resultados.

- Vir aqui já é uma vitória para a gente. O nervosismo atrapalhou – revelou Carlinhos, meia de 16 anos, que sofreu para marcar garotos muito mais fortes durante a partida.

- Não é normal para nós jogar a Copa São Paulo. Eles são mais fortes, e o time todo ficou ansioso. Mas vamos tentar entrar mais calmos no próximo jogo – disse o zagueiro Felipe, também de 16 anos, que sofreu uma lesão na boca durante a partida após bater o rosto na chuteira de um adversário em jogada que chegou dando carrinho atrasado.

Felipe é um destes atletas que mudou de vida por causa do Imagine. O zagueiro conta que, antes de conhecer o clube, sua vida era baseada em comer, dormir e não fazer nada. Carlinhos também ressaltou a importância do projeto em "tirar a molecada desde pequeno para não cair no caminho errado". Mas a história da maior oportunidade recebida, e bem aproveitada, talvez não esteja dentro do campo. 
Copinha - Imagine (Foto: Cassio Barco)Imagine em ação pela Copinha neste domingo, contra o Flamengo de Guarulhos (Foto: Cassio Barco)
John Hebert tem 20 anos. Jogou futebol profissionalmente no Imagine até no ano passado. Tem praticamente a idade dos atletas que entraram em campo na estreia da Copa São Paulo e poderia buscar um futuro como jogador. Só que Jonh decidiu seguir um caminho bem diferente. Ele é o técnico do time na Copa São Paulo. Sim, o técnico do sub-19 tem 20 anos. Poderia ser um problema assumir uma equipe tão novo assim, mas John Hebert não encara dessa forma.

- Não importa a idade. Eles ouvem o que falo, quando grito na hora do jogo, é normal. Isso que me faz crescer cada vez mais, a caminho do meu objetivo, que é me tornar um treinador de time profissional. Por isso, eles me respeitam muito.
 Vir aqui já é uma vitória para a gente
Carlinhos, meia
 John é um dos principais responsáveis pela ida do Imagine à Copa São Paulo. Ele foi o técnico responsável pela vitória no time no estadual sub-19 do Tocantins, que garantiu a vaga ao clube de Palmas. Na época, jogava no time profissional e treinava três categorias de base. Até que recebeu a proposta do presidente de se "aposentar" da carreira de jogador abruptamente para assumir os juniores.

- Ser técnico é mais difícil do que ser jogador. Você tem de ter um esquema tático, um comando aqui fora e ainda orientar bem, sem usar palavrão, sem pegar pesado com os garotos. Sou fã do Muricy Ramalho porque ele é um paizão, todo mundo gosta dele. Tento fazer a mesma coisa com o Imagine, que se chega, se junta comigo. Como amigos.

O Imagine é feito de histórias. Como a do técnico John Hebert, a do presidente Paulo Kramer e a do zagueiro Felipe. Apesar do nome não ter relação alguma com a música “Imagine”, de John Lennon, é uma equipe movida por sonhos, como o ex-beatle pregava na famosa canção. Pelo sonho de viver a vida em paz, de compartilhar o mundo, de ter um propósito, de fazer um futebol melhor.

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